A
soberania de Deus definida.
Autor: Rev. Prof. Dr. A.W. Pink. Traduzido e adaptado por: Rev. Prof. Dr. Albuquerque
G. C.
"Tua é, ó Senhor, a grandeza, e o poder, e a glória, e a vitória, e a majestade; porque teu é tudo o que há nos céus e na terra; teu é o reino, ó Senhor, e tu é exaltado como Cabeça acima de tudo" (1 Crônicas 29:11).
A
Soberania de Deus é uma expressão que geralmente é entendida de forma
superficial; é uma frase comumente usada na literatura religiosa, é um tema
frequentemente exposto no púlpito, Foi um dia; uma verdade que trouxe conforto
a muitos corações e deu virilidade e estabilidade ao caráter cristão! Mas,
hoje, fazer menção à Soberania de Deus é, em muitos lugares, falar em uma língua
desconhecida. Se anunciássemos do púlpito comum que o assunto de nosso discurso
seria a Soberania de Deus, soaria como se tivéssemos emprestado uma frase de
uma das línguas mortas a décadas!!! Não deveria ser assim; Infelizmente! que a
doutrina que é a chave da história, o intérprete da Providência, a urdidura e a
trama da Escritura, e o fundamento da teologia cristã possam ser tão tristemente
negligenciados e tão pouco compreendidos justamente por queles que se dizem
cristãos. A Soberania de Deus; O que queremos dizer com esta expressão? Queremos
dizer a supremacia exaustiva e absoluta de Deus, a realeza de Deus, a divindade
de Deus. Dizer que Deus é Soberano é declarar que Deus é Deus de geração a
geração.
Dizer que Deus é Soberano é declarar que Ele é o Altíssimo,
fazendo de acordo com Sua vontade no exército do Céu e entre os habitantes da
terra, para que ninguém possa deter Sua mão ou dizer a Ele que fazes? (Dan.
4:35). Dizer que Deus é Soberano é declarar que Ele é o Todo-Poderoso, o
Possuidor de todo poder no Céu e na terra, de modo que ninguém pode derrotar
Seus conselhos, frustrar Seu propósito ou resistir à Sua vontade (Salmo 115: 3).
Dizer que Deus é Soberano é declarar que Ele é "o Governador entre as
nações" (Sl 22:28); estabelecendo reinos, derrubando impérios e determinando
o curso das dinastias como melhor Lhe agrada. Dizer que Deus é Soberano é
declarar que Ele é o "Único Potentado, o Rei dos reis e Senhor dos
senhores" (1 Tim. 6: 15). Assim é o Deus da Bíblia exaustivamente e
absolutamente soberano.
Quão
diferente é o Deus da Bíblia do Deus da falsificada cristandade moderna! (os
nefastos e pervertidos pentecostais, neopentecostais, carismaticos católicos e
toda sorte de seitas gnósticas, pelagianas, arminianas, amiraldinas, sabelianas;
deturpam o Deus das escrituras e criam um deus humano, antropocentrico); A
concepção da Divindade que prevalece mais amplamente hoje, mesmo entre aqueles
que professam dar atenção às Escrituras, é uma caricatura miserável, uma caricatura
blasfema da Verdade. O Deus do século XXI é um ser indefeso e efeminado que não
merece o respeito de nenhum homem realmente estudioso das escrituras sagradas.
O
Deus da mente popular é a criação do sentimentalismo tosco. O Deus de muitos
púlpitos atuais é um objeto de feitiçaria e não de reverência inspiradora. Dizer
que Deus Pai propôs a salvação de toda a humanidade, que Deus Filho morreu com
a intenção expressa de salvar toda a raça humana, e que Deus Espírito Santo
está agora procurando ganhar o mundo para Cristo; quando, por uma questão de
observação comum, é evidente que a grande maioria de nossos semelhantes está
morrendo em pecado e passando para uma eternidade sem esperança; é dizer que
Deus o Pai é desapontado, que Deus Filho está insatisfeito,
e que Deus Espírito Santo está derrotado.
Declaramos
a questão sem rodeios, mas não há como escapar da conclusão. Argumentar que
Deus está "tentando o seu melhor" para salvar toda a humanidade, mas
que a maioria dos homens não permitirá que Ele os salve, é insistir que a
vontade do Criador é impotente e que a vontade da criatura é onipotente. Lançar
a culpa, como muitos fazem, sobre o Diabo, não remove a dificuldade, pois se
Satanás está derrotando o propósito de Deus, então, Satanás é Todo-Poderoso e
Deus não é mais o Ser Supremo. Declarar que o plano original do Criador foi
frustrado pelo pecado é destronar Deus. Sugerir que Deus foi pego de surpresa
no Éden e que agora está tentando remediar uma calamidade imprevista é degradar
o Altíssimo ao nível de um mortal finito e errante. Argumentar que o homem é um
agente moral livre e o determinante de seu próprio destino, e que, portanto,
ele tem o poder de dar xeque-mate em seu Criador, é retirar de Deus o atributo
da Onipotência. Dizer que a criatura ultrapassou os limites estabelecidos por seu
Criador, e que Deus é agora praticamente um Espectador impotente diante do
pecado e sofrimento acarretados pela queda de Adão, é repudiara a declaração
expressa das Sagradas Escrituras, a saber, "Certamente a ira do homem Te
louvará; o restante da ira Tu conterás" (Salmo 76: 10).
Em
uma palavra, negar a Soberania de Deus é entrar em um caminho que, se seguido
ao seu término lógico, é chegar ao ateísmo religioso!!! A Soberania do Deus da
Escritura é absoluta, irresistível, infinita. Quando dizemos que Deus é Soberano,
afirmamos Seu direito de governar o universo que Ele criou para Sua própria
glória, assim como Ele quer. Afirmamos que Seu direito é o direito do Oleiro
sobre o barro, ou seja, que Ele pode moldar esse barro em qualquer forma que
Ele escolher, fazendo da mesma massa um vaso para honra e outro para desonra.
Afirmamos que Ele não está sob nenhuma regra ou lei fora de Sua própria vontade
e natureza, que Deus é uma lei para Si mesmo, e que Ele não tem obrigação de
prestar contas de Seus assuntos a ninguém.
A
soberania caracteriza todo o Ser de Deus. Ele é Soberano em todos os Seus atributos.
Ele é Soberano no exercício de Seu poder. Seu poder é exercido como Ele quer,
quando Ele quer, onde Ele quer. Este fato, é evidenciado em cada página das Escrituras.
Por uma longa temporada esse poder parece estar adormecido, e então é colocado
em poder irresistível. Faraó ousou impedir Israel de sair para adorar a Jeová
no deserto - o que aconteceu? Deus exerceu Seu poder, Seu povo foi libertado e
seus cruéis mestres escravocrátas foram mortos. Mas um pouco depois, os
amalequitas ousaram atacar esses mesmos israelitas no deserto, e o que
aconteceu? Deus estendeu Seu poder nesta ocasião e mostrou Sua mão como fez no Mar
Vermelho? Esses inimigos de Seu povo foram prontamente derrubados e destruídos?
Não, pelo contrário, o Senhor jurou que Ele teria "guerra contra Amaleque
de geração em geração" (Êxo. 17: 16). Novamente, quando Israel entrou na
terra de Canaã,O poder de Deus foi exibido de forma notável. A cidade de Jericó
impediu seu progresso - o que aconteceu? Israel não puxou o arco nem desferiu
um golpe: o Senhor estendeu a mão e os muros caíram.
Mas o milagre nunca se repetiu! Nenhuma outra cidade caiu desta
maneira. Todas as outras cidades tinham que ser capturadas pela espada! Muitos
outros exemplos podem ser apresentados ilustrando o exercício soberano do poder
de Deus. Tome um outro exemplo. Deus estendeu Seu poder e Davi foi libertado de
Golias, o gigante; as bocas dos leões foram fechadas e Daniel escapou ileso; os
três amigos hebreus foram lançados na fornalha de fogo ardente e saíram ilesos.
Mas o poder de Deus nem sempre interveio para a libertação de Seu povo, pois
lemos: "E outros foram julgados por zombarias e açoites cruéis, sim, ainda
por cadeias e prisões: foram apedrejados, foram serrados, foram tentados, foram
mortos à espada; andavam vestidos de peles de ovelhas e de cabras; destituídos,
aflitos, atormentados” (Hb 11:36, 37). Mas por que? Por que esses homens de fé
não foram libertos como os outros? Ou, por que os outros não foram mortos
assim? Por que o poder de Deus deveria interpor e resgatar alguns e não outros?
Por que permitir que Estêvão seja apedrejado até a morte e depois libertar Pedro
da prisão? Deus é Soberano na delegação de Seu poder a outros. Por que Deus deu
a Matusalém uma vitalidade que o capacitou a sobreviver a todos os seus
contemporâneos? Por que Deus deu a Sansão uma força física que nenhum outro
humano jamais possuiu?
Novamente; está escrito: "Mas te lembrarás do Senhor teu
Deus, porque é Ele que te dá o poder de obter riquezas" (Dt 8:18), mas
Deus não concede este poder a todos igualmente; Por que não? Por que Ele deu
tanto poder a homens como Morgan, Carnegie, Rockefeller, Hitler, Bolsonáro? A
resposta para todas essas perguntas é: porque Deus é Soberano, e sendo
Soberano, Ele faz o que quer.
O Senhor
Deus é Exaustivamente e Absolutamente Soberano no exercício de Sua misericórdia,
Necessariamente assim, pois a misericórdia é dirigida pela vontade daquele que
mostra misericórdia. A misericórdia não é um direito ao qual o homem tem
direito. A misericórdia é aquele adorável atributo de Deus pelo qual Ele se
compadece e alivia os miseráveis; Mas sob o justo governo de Deus ninguém é
miserável que não mereça ser assim, os objetos de misericórdia, então, são
aqueles que são miseráveis, e toda miséria é o resultado do pecado, portanto,
os miseráveis são merecedores de punição, não de misericórdia; Falar de
merecer misericórdia é uma contradição de termos.
Deus concede Suas misericórdias a quem Lhe agrada e as retém
como parece bom para Si mesmo. Uma ilustração notável desse fato é vista na
maneira como Deus respondeu às orações de dois homens oferecidas em
circunstâncias muito semelhantes. A sentença de morte foi dada a Moisés por um
ato de desobediência, e ele implorou ao Senhor por um indulto; Mas seu desejo
foi satisfeito? Não; ele disse a Israel:
"O Senhor se indignou comigo por amor de vós, e não me quis
ouvir; e disse-me o Senhor: Basta-te" (Dt 3:26). Agora marque o segundo
caso: "Naqueles dias Ezequias adoeceu até a morte, E veio a ele o profeta
Isaías, filho de Amoz, e disse-lhe: Assim diz o Senhor: Põe em ordem a tua
casa, porque morrerás, e não viverás; Então, voltando o rosto para a parede,
orou ao Senhor, dizendo: Rogo-te, ó Senhor, lembra-te agora de como tenho
andado diante de ti em verdade e com coração perfeito, e fiz o que é bom diante
de ti; E Ezequias chorou muito; E aconteceu que, antes de Isaías sair para o
pátio do meio, veio a ele a palavra do Senhor, dizendo: Volta-te e dizei a
Ezequias, capitão do meu povo: Assim diz o Senhor Deus de Davi, teu pai, ouvi a
tua oração, Eu vi as tuas lágrimas; eis que te sararei; ao terceiro dia irás à
casa do Senhor. E acrescentarei quinze anos aos teus dias” (2 Reis 20:1-6). “Ouvi
tua oração”, e sua vida foi poupada. Que ilustração e exemplificação da verdade
expressa em Romanos 9:15! disse a Moisés: Compadecer -me-ei de quem eu quiser,
e terei compaixão de quem eu tiver compaixão". O exercício Soberano da
misericórdia de Deus—compaixão aos miseráveis—foi demonstrado quando Jeová se
tornou carne e habitou entre os homens. Pegue uma ilustração, Durante uma das
festas dos judeus, o Senhor Jesus subiu a Jerusalém.
Ele
chegou ao tanque de Betesda, onde jazia "uma grande multidão de pessoas
impotentes, de cegos, mancos, murchos, esperando o movimento das águas".
Entre esta "grande multidão" havia "um certo homem que tinha
trinta e oito anos de enfermidade". O que aconteceu? "Quando Jesus o viu,
e sabendo que já estava há muito tempo naquele caso, disse- lhe: Queres ser
curado? Respondeu-lhe o impotente: Senhor, não tenho homem algum, quando a água
está agitada, para me colocar no tanque; mas quando eu chego, outro desce antes
de mim. Disse-lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda. E imediatamente o
homem ficou são, tomou a sua cama e andou” (João 5:3-9). Por que este homem foi
destacado de todos os outros? Não nos é dito que ele gritou "Senhor, tem
misericórdia de mim". Não há uma palavra na narrativa que insinue que esse
homem possuía quaisquer qualificações que o habilitassem a receber um favor
especial; Aqui estava então um caso de exercício soberano da misericórdia
divina, pois era tão fácil para Cristo curar toda aquela “grande multidão”
quanto este “certo homem”. Mas ele não fez. Ele estendeu Seu poder e aliviou a
miséria deste sofredor em particular, e por alguma razão conhecida apenas por
Ele mesmo, Ele se recusou a fazer o mesmo pelos outros, Novamente, dizemos, que
ilustração e exemplificação de Romanos 9:15! - "Terei misericórdia de quem
eu tiver misericórdia, e terei compaixão de quem eu tiver compaixão." Deus
é Soberano no exercício de Seu amor. Ah! isso é um ditado difícil, quem então
pode recebê-lo? Está escrito: "Um homem não pode receber nada, a menos que
lhe seja dado do céu" (João 3:27). Quando dizemos que Deus é Soberano no
exercício de Seu amor, queremos dizer que Ele ama quem Ele escolhe.
Deus
não ama a todos*; se Ele o fizesse, Ele amaria o Diabo também! Por que Deus não
ama o diabo? Porque não há nada nele para amar; porque não há nada nele para
atrair o coração de Deus. Nem há nada para atrair o amor de Deus em qualquer um
dos filhos caídos de Adão, pois todos eles são, por natureza, "filhos da
ira" ( Efésios 2:3). Se então não há nada em qualquer membro da raça
humana para atrair o amor de Deus, * João 3:16 será examinado mais tarde.
E se, não obstante, Ele ama alguns, então necessariamente se segue que a causa
de Seu amor deve ser encontrada em Si mesmo, o que é apenas outra maneira de
dizer que o exercício do amor de Deus para com os filhos dos homens caídos é de
acordo com Sua própria vontade e bom prazer.
Em
última análise, o exercício do amor de Deus deve remontar à Sua Soberania ou, caso
contrário, Ele amaria por regra; e se Ele amou por regra, então Ele está sob
uma lei de amor, e se Ele está sob uma lei de amor, então Ele não é supremo, mas
Ele mesmo é governado por lei. "Mas", pode-se perguntar,
"certamente você não nega que Deus ama toda a família humana?"
Respondemos, está escrito: "Amei a Jacó, mas odiei a Esaú" (Rom. 9:13);
Se então Deus amou Jacó e odiou Esaú, e isso antes deles nascerem ou terem
feito o bem ou o mal, então a razão do Seu amor não estava neles, mas em si
mesmo.
Que
o exercício do amor de Deus é de acordo com o Seu próprio prazer Soberano
também fica claro na linguagem de Efésios 1:3-5, onde lemos: "Bendito seja
o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as
bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo Jeusu nosso senhor; Assim
como nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis
diante dele em amor, e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo,
para si mesmo, segundo o beneplácito de Sua vontade."
Foi
"em amor" que Deus Pai predestinou Seus escolhidos para a adoção de filhos
por Jesus Cristo para Si mesmo, "segundo" -de acordo com o que? De acordo
com alguma excelência que Ele descobriu neles? Não. E então? De acordo com o
que Ele previu que eles se tornariam? Não; marque cuidadosamente a resposta inspirada
– “De acordo com o beneplácito de Sua vontade”.
Não ignoramos o fato de que os homens inventaram a distinção
entre o amor de complacência de Deus e Seu amor de compaixão, mas esta é uma
invenção pura e simples. As Escrituras chamam
este último de "piedade" de Deus (veja Mt 18:33), e "Ele é benigno
para com os ingratos e maus" (Lc 6:35)!
Deus é Soberano no exercício de Sua graça. Isso por
necessidade, pois a graça é favor mostrado aos indignos, sim, aos merecedores
do Inferno. A graça é a antítese da justiça. A justiça exige a aplicação imparcial
da lei. A justiça exige que cada um receba o que lhe é legítimo, nem mais nem
menos. A justiça não
concede favores e não faz acepção de pessoas. A
justiça, como tal, não mostra piedade e não conhece misericórdia. Mas depois
que a justiça foi totalmente satisfeita, a graça flui. A graça divina não é
exercida à custa da justiça, mas "a graça reina pela justiça" (Rm
5:21), e se a graça "reina", então a graça é Soberana.
A graça
foi definida como o favor imerecido de Deus*; e se não for merecido, ninguém
pode reivindicá-lo como seu direito inalienável. Se a graça é imerecida, então
ninguém tem direito a ela. Se a graça é um dom, ninguém pode exigi -la. Portanto,
como a salvação é pela graça, o dom gratuito de Deus, então Ele a concede a
quem lhe agrada. Porque a salvação é pela graça, o principal dos pecadores não
está além do alcance da misericórdia divina. Porque a salvação é pela graça, a
jactância é excluída e Deus recebe toda a glória.
O
exercício soberano da graça é ilustrado em quase todas as páginas das
Escrituras. Os gentios são deixados a andar em seus próprios caminhos enquanto Israel
se torna o povo da aliança de Jeová. Ismael, o primogênito, é expulso
comparativamente menos abençoado, enquanto Isaac, o filho da velhice de seus
pais, é feito filho da promessa. Esaú, o de coração generoso e espírito
perdoador, é negado a bênção, embora ele tenha buscado cuidadosamente com
lágrimas, enquanto o verme Jacó recebe a herança e é moldado em um vaso de
honra. Assim no Novo Testamento, A Verdade Divina está escondida dos sábios e
prudentes, mas é revelada aos pequeninos; Os fariseus e saduceus são
excluidos!!!
*Um
estimado amigo que gentilmente leu este livro em sua forma manuscrita, e a quem
devemos uma série de excelentes sugestões, apontou que a graça é algo mais do
que "favor imerecido". Alimentar um vagabundo que me chama é
"favor imerecido", mas dificilmente é graça; suponha que depois de me
roubar eu devesse alimentar esse vagabundo faminto - isso seria
"graça". Graça, então, é favor mostrado onde há demérito positivo em
quem a recebe, são deixados para seguir seu próprio caminho, enquanto
publicanos e meretrizes são atraídos pelas cordas do amor. De maneira notável,
a graça divina foi exercida no momento do nascimento do Salvador.
A
encarnação do Filho de Deus foi um dos maiores eventos da história do universo e, no entanto,
sua ocorrência real não foi divulgada a toda a humanidade; em
vez disso, foi especialmente revelado aos pastores de Belém e sábios do
Oriente. E isso foi profético e indicativo de todo o curso desta dispensação,
pois ainda hoje Cristo não é conhecido por todos. Teria sido uma questão fácil
para Deus ter enviado uma companhia de anjos a todas as nações e ter anunciado o
nascimento de Seu Filho. Mas ele não fez. Deus poderia ter prontamente atraído
a atenção de toda a humanidade para a "estrela"; Mas ele não fez. Por
quê? Porque Deus é Soberano e dispensa Seus favores como Lhe apraz.
Observe
particularmente as duas classes a quem o nascimento do Salvador foi dado a
conhecer, a saber, as classes mais improváveis – pastores analfabetos e
pagãos de um país distante. Nenhum anjo estava diante do Sinédrio e anunciou o
advento do Messias de Israel! Nenhuma "estrela" apareceu aos escribas e advogados
enquanto eles, em seu orgulho e justiça própria, examinavam
as Escrituras! Eles procuraram diligentemente para descobrir onde Ele deveria
nascer, e ainda assim não foi informado a eles quando Ele realmente veio.
Que
demonstração de Soberania Divina – os pastores analfabetos escolhidos para uma
honra peculiar, e os eruditos e eminentes passaram despercebidos! E por que o
nascimento do Salvador foi revelado a esses estrangeiros, e não àqueles em cujo
meio Ele nasceu? Veja nisto um maravilhoso prenúncio do trato de Deus com nossa
raça ao longo de toda a dispensação cristã – Soberano no exercício de Sua
graça, concedendo Seus favores a quem Lhe apraz, muitas vezes aos mais
improváveis e indignos.*
Foi-nos indicado que a Soberania de Deus foi manifestada de
forma notável em Sua escolha do lugar onde Seu Filho nasceu. Não para a Grécia
ou Itália veio o Senhor da Glória, mas para a terra insignificante da Palestina!
Não em Jerusalém - a cidade real – nasceu o Emanuel, mas em Belém, que era
"pequena entre os milhares (de cidades e aldeias) em Judá" (Miquéias
5:2)! E foi na desprezada Nazaré que Ele cresceu!! Verdadeiramente, os caminhos
de Deus não são os nossos.
Autor: Rev. Prof. Dr. A.W. Pink. Traduzido e adaptado por: Rev. Prof. Dr. Albuquerque G. C.
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